CRÔNICA RETRATA O FARMACÊUTICO E A COVID-19

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Após apresentar uma live para farmacêuticos de todo o mundo, o Dr. Divaldo Pereira de Lyra Junior, professor de reconhecido talento em formar profissionais para o cuidado farmacêutico e membro do Grupo de Trabalho de Integração Farmacêutico e Sociedade do Conselho Regional de Farmácia de Sergipe (GT-IFS/CRF-SE), traça um perfil histórico da participação do farmacêutico nas epidemias. Na visão do Dr. Marcos Rios, o recado é claro: “na paz ou na guerra é preciso assumir atitudes. A glória é para os que resolveram lutar!”.

Apreciem o texto.

 

REFLEXÕES SOBRE A COVID19 E FUTURO DO FARMACÊUTICO

 

A situação atual de enfrentamento da COVID-19 é uma das mais desafiadoras da profissão global e milenar de farmacêutico. Dentre outros fatores, porque talvez seja a primeira pandemia que é possível salvar muitas vidas e que sem dúvidas, promoverá grandes mudanças em todos os âmbitos, da ciência a comunicação social, da economia à espiritualidade.  No entanto, o momento atual não requer só ações, mas sobretudo reflexões.

No Brasil, os primeiros cursos de Farmácia foram criados em 1824, nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador. Em 1839, foi fundada em Ouro Preto, a primeira faculdade de Farmácia autônoma das Américas e, na sequência, foram criados cursos em São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belém. Apesar de ser um dos primeiros cursos de nível superior do país, 85% dos farmacêuticos hoje têm menos de 15 anos de formação.

Nesses quase 200 anos, o farmacêutico vivenciou apenas dois momentos semelhantes, em 1905, com varíola, e em 1918, com a gripe espanhola. Vale ressaltar que a realidade era outra, o farmacêutico era o dono da farmácia e o único profissional de saúde da região. Por isso, na inoperância das autoridades públicas, liderava as ações de saúde, cuidava das pessoas e custeava os insumos utilizados no enfrentamento das doenças. Ao final, tornaram-se heróis com reconhecimento social, prosperidade financeira, homenagens em nomes de ruas e de bairros.

A partir da chegada das indústrias farmacêuticas e a abertura do mercado para o varejo e proprietários leigos, na década de 1960, o papel de referência da saúde se enfraqueceu e, na década de 1990, vários projetos de Lei foram encaminhados visando retirar a obrigatoriedade do responsável técnico nas farmácias. Nesta época, a mídia denunciou amplamente a comercialização de medicamentos falsificados no país, a sociedade se alarmou e apoiou as instituições que defendiam o cuidado farmacêutico nas farmácias comunitárias.

Em consequência, a profissão se renovou e cresceu, passando de 65 para mais de 500 cursos de Farmácia e de 20.000 para mais de 220.000 farmacêuticos. Essa renovação atingiu os currículos, o movimento clínico, o arcabouço legal, o piso salarial e quantidade de postos de trabalho. Apesar disso, ainda há contradições entre os aspectos comerciais e éticos que fazem parte da rotina e os farmacêuticos hoje estão frente a frente com uma pandemia, de dimensões imprevisíveis, que acelera a possibilidade real de nova mudança de paradigma profissional.

Diante disso, é preciso ter a serenidade para refletir que estamos entre dois caminhos e, portanto, precisamos nos questionar se seremos ou não profissionais cujo foco é o cuidado?! Em termos legais, precisamos considerar que a Lei no 13.021/2014 transforma a farmácia comunitária em estabelecimento de saúde e o farmacêutico sua maior autoridade, cujas funções devem ser focadas na orientação sobre o uso de medicamentos, na vacinação e na realização de procedimentos de diagnóstico rápido e monitoramento de parâmetros clínicos.

Por outro lado, a realidade do varejo requer um farmacêutico desfocado e multifuncional, capaz de ser vendedor, gestor, orientador, treinador da equipe, responsável legal, etc. Vale ressaltar que alguns profissionais sofrem a pressão de querer fazer a diferença no atendimento, mas não se sentem seguros de atuar como clínicos porque a formação foi insuficiente. Pior, muitas vezes o farmacêutico se sente desvalorizado e mal remunerado pelo proprietário do estabelecimento, que só o contrata por imposição legal.

Enfim, estamos no meio do caminho e é preciso escolher para onde ir com a única certeza que a humanidade não será a mesma após a pandemia da COVID-19, pois seus desejos, sonhos, objetivos e necessidades sociais serão outras. Portanto, cada um e todos nós farmacêuticos precisamos refletir sobre todas as oportunidades de autoconhecimento que esta situação de calamidade pública traz, considerando valores relevantes como: o direito ao cuidado do paciente, a realização pessoal, o dever profissional e o reconhecimento social.  Quanto ao futuro, acredito que estará ligado a essas reflexões e as ações realizadas agora...

... Mas não esqueçam: o soldado deve estar preparado para o combate. Na luta contra a COVID-19, o EPI é fundamental para se proteger e ao seu próximo. Recuse a guerra quando não há armamento para lutar! Estando pronto, vá e lute! No final você terá vencido. Sua profissão sairá reconhecida.

08/04/2020 11:00
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