A criação dos cursos de Farmácia em Sergipe foi uma grande conquista para a saúde pública, principalmente para a assistência farmacêutica. A primeira semente plantada foi através da farmacêutica e professora Ana Guedes na Universidade Tiradentes (Unit), e mais tarde a implantação do curso também na Universidade Federal de Sergipe (UFS), através do farmacêutico e vice-reitor da instituição, Ângelo Antoniolli.
Ana Guedes se formou na Universidade Federal da Paraíba em 1979. Ela trabalhou por oito anos em Rondônia, em um hospital público e em 1991, por problemas de adaptação acabou vindo para Aracaju. Um dos motivos da sua vinda foi o desejo incessante pela sala de aula. "Sentia falta da sala de aula, por isso, assim que cheguei aqui já procurei me encaixar. Fui até o CRF/SE me vincular, onde fiquei sabendo que não existia o curso de Farmácia no Estado. Neste momento surgiu a ideia: ‘vou implantar o curso de Farmácia em Sergipe', mas era só um sonho, um devaneio", conta Guedes.
Ana recorda que a assistência farmacêutica no Estado era um dos grandes obstáculos, pois não havia farmacêuticos para atender a população. "Uma das perguntas que eu fiz foi sobre como era feita a assistência farmacêutica em Sergipe. A informação passada era de que vinham farmacêuticos de outros estados, e apenas assumiam a responsabilidade técnica pela farmácia. Fiquei muito triste com isso, pois em muitos lugares a assistência já existia", revela.
O curso de Ciências Biológicas, modalidade médica, estava iniciando quando Ana Guedes começou lutar pela implantação do curso de Farmácia em Sergipe. "Fui até a Faculdade Integrada Tiradentes atrás de uma oportunidade de trabalho e contei o meu sonho ao reitor Jouberto Uchôa de implantar o curso. Ele respondeu que conforme o MEC tinha que começar a área de saúde com um curso de licenciatura", explica.
Em 1994 o curso foi defendido em Brasília e aceito devido à carência de farmacêuticos no Estado. O primeiro vestibular foi em junho de 1996, e foram dois anos para implantação dos laboratórios e ampliação da parte física. A matriz curricular segundo Ana Guedes foi montada em três noites por ela pelo professor Melquídes de Resende Neto.
A primeira turma de farmacêuticos de Sergipe foi entregue a sociedade sergipana em agosto de 1999. "Tive a honra com muito orgulho de criar o curso, formar a primeira turma e ser a paraninfar desta turma. Deixei o filho que criei nas mãos dos meus colegas que tornam o curso cada vez melhor. Hoje temos um mercado com cerca de 500 farmacêuticos trabalhando não só em Sergipe, e são realmente farmacêuticos", pondera Ana Guedes.
Desafios atuais
Uma das primeiras professoras e atual coordenadora do curso de Farmácia da Unit, Ana Paula Belizário de Souza Cristina, avalia que o pioneirismo de formar os primeiros farmacêuticos foi um marco para a assistência farmacêutica em Sergipe. "Antes tínhamos um processo de desassistência, onde esta prática não existia. O farmacêutico tinha várias responsabilidades e não tinha uma prática da assistência nem nas farmácias de dispensação comunitária, nem nas drogarias, e nem muito menos em nível hospitalar", relata Belizário. De acordo com ela a implantação do curso foi um divisor de águas para a assistência farmacêutica, e que o desafio agora é manter esta qualidade.
Curso de Farmácia chega à UFS
Em 2000, a Universidade Federal de Sergipe (UFS), implantou o segundo curso de Farmácia do Estado. O fundador do curso, e atual Vice-Reitor da instituição, Ângelo Antoniolli, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina em 1984, destaca que foi uma grande vitória e o desafio é melhorar cada vez mais a graduação, ampliando as possibilidades de capacitação dos farmacêuticos que se formam.
O Vice-Reitor destaca que o curso de Farmácia está muito bem, mas precisa melhorar sempre. Segundo ele é preciso refletir como a formação em Farmácia pode servir a sociedade. "Nós sempre visamos construir um curso de Farmácia para que toda a sociedade sergipana pudesse usufruir desse trabalho. Estamos criando uma escola de farmácia com uma formação continuada que vai garantir uma qualidade ao Estado no que diz respeito aos farmacêuticos aqui existentes. O momento é de discussão da identidade do curso", adianta Antoniolli.
O curso de farmácia em Lagarto já oferece 50 vagas anuais, no Campus de São Cristóvão são ofertadas mais 80 vagas anuais. A quantidade de alunos que entram por ano gira em entorno de 130 novos farmacêuticos. Antoniolli explica que é necessária uma boa formação, pois o farmacêutico tem um papel fundamental na saúde da população. "O farmacêutico é imprescindível no aconselhamento do uso de medicamentos, que tomou um espaço de extrema relevância na sociedade para o bem e para o mal, o mau uso do medicamento é tão nocivo quanto o veneno", alerta.
Quanto aos desafios do curso de Farmácia da UFS, Antoniolli aponta que os principais metas são fortalecer a graduação e ter mais qualidade de ensino vislumbrando uma projeção dentro de uma sociedade mais cidadã. "Só podemos ter uma profissão de qualidade se houver uma preocupação com o professor, que precisa está sempre aprendendo para estimular o aluno também a aprender", acrescenta.
Criar discussões em todas as áreas e debater a identidade sergipana através de observatórios para encontrar saídas junto ao Estado é uma das alternativas apontadas pelo vice-reitor da UFS para melhorar a condição de vida dos sergipanos. Ele destaca, principalmente, a necessidade de discutir a saúde sergipana com propostas que visam melhorias para a sociedade. "Temos cerca 700 doutores que na maioria são de outros estados que precisam conhecer a realidade sergipana. Estes fóruns permanentes farão com que os cientistas se identifiquem com os problemas de Sergipe e melhore a qualidade de vida dos sergipanos", ressalta Ângelo.
Mérito Farmacêutico
Em 2008, o Dr. Ângelo Antoniolli foi homenageado pela Conselheira Federal de Sergipe, Vanilda Oliveira Aguiar com a Comenda do Mérito Farmacêutico no Dia do Farmacêutico em Brasília. A Comenda do Mérito Farmacêutico é a maior honraria concedida no setor farmacêutico brasileiro criada em 1998 por resolução do Conselho Federal da Farmácia (CFF).