A Agência Nacional do Petróleo (ANP) registrou um número recorde de flagrantes de combustíveis batizados com metanol em 2023. Estima-se que apenas no ano passado, em todo o país, aproximadamente 30 milhões de litros de gasolina e de etanol foram adulterados com o metanol. Os dados acendem o alerta para outro problema. O risco de intoxicação por metanol devido à ingestão indevida de etanol proveniente de postos de combustíveis, com a finalidade recreacional.
No final do ano passado, Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da região sul e sudeste observaram um aumento preocupante nos casos de intoxicação fatal por metanol. Na ocasião, o Grupo de Trabalho sobre Toxicologia do Conselho Federal de Farmácia publicou um alerta onde antecipava que a intoxicação podia estar relacionada com a possível adulteração do combustível com metanol, extrapolando o teor permitido. O limite fixado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) é de 0,5%, conforme a Resolução nº 907/2022, que dispõe sobre as especificações do etanol combustível e suas regras de comercialização em todo o território nacional.
E, de fato, a Agência Nacional do Petróleo resolveu investigar porque estranhou o crescimento no volume de importações do produto em 2023. “[Detectamos] Indícios de que metanol estava sendo direcionado para indústrias que não tinham essa capacidade de produção. Portanto, não tinham porque receber tanto metanol, sendo desencaminhado para fraude nos combustíveis”, disse Rodolfo Saboia, diretor-geral da ANP ao Jornal Nacional, da Rede Globo.
Na nota publicada no final do ano passado, o GT sobre Toxicologia do CFF destaca que a intoxicação por metanol é perigosa podendo levar a danos graves ou fatais, e pode ocorrer quando há ingestão oral, inalação ou absorção cutânea dessa substância. “O seu efeito tóxico está relacionado diretamente com seus produtos de biotransformação (ácido fórmico e formaldeído)”, comenta José Roberto Santin, integrante do GT e presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTOX).
O tratamento para intoxicação por metanol é uma emergência clínica e deve ser conduzido por profissionais de saúde em ambiente hospitalar. Os objetivos principais do tratamento incluem interromper a absorção adicional de metanol, corrigir os desequilíbrios químicos no organismo, eliminar o metanol o mais rápido possível e administrar antídotos conforme monitorização laboratorial e decisão clínica.
A melhor forma de prevenir a intoxicação por metanol é nunca beber líquidos de origem desconhecida ou não destinados ao consumo humano. Em caso de suspeita de intoxicação por metanol, é fundamental procurar atendimento imediatamente. O tratamento precoce pode ajudar a reduzir os danos causados pelo metanol e aumentar as chances de recuperação.
Fique atento aos sintomas da intoxicação:
• Quadro típico: leve depressão do sistema nervoso central (SNC), seguida de um período latente de aproximadamente 12 a 24 horas;
• Após o período latente, segue-se acidose metabólica, disfunção visual e sintomas associados (cefaleia, náusea, vômitos, dor abdominal, dispneia);
• Bradicardia, choque, coma, persistência da acidose e anúria sugerem mau prognóstico;
• Morte geralmente resulta de falência respiratória.
São orientações pertinentes na admissão do paciente:
• Considerar a possível intoxicação por metanol em casos de ingesta de etanol proveniente de combustível;
• Considerar que a intoxicação por metanol pode progredir rapidamente para um estado grave ou fatal, não devendo ser subestimada;
• Diante da suspeita notificar imediatamente o CIATox, que irá auxiliar no diagnóstico, confirmação e tratamento da intoxicação.