Atuação do farmacêutico na homeopatia é essencial para um melhor cuidado do paciente

Confira na matéria a seguir um pouco mais sobre os princípios da homeopatia e como se dá a atuação do farmacêutico nessa área, a partir da experiência da professora Ana Paula Belizário


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Segunda metade do século XVIII. As ideias iluministas fervilhavam, a Igreja Católica já não dominava completamente a vida das pessoas e a Revolução Industrial começava a engatinhar. Na América, os Estados Unidos consolidam sua independência da Grã-Bretanha em 1776. Na França, parisienses tomam a Bastilha e dão início à Revolução Francesa, em 1789. É nesse contexto de mudanças pelo qual a sociedade ocidental passava que surge a homeopatia, a partir das descobertas do médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann. 

A homeopatia é um tipo de terapia de tratamento alternativa que contempla a totalidade do ser humano em detrimento de doenças isoladas. Apesar de ser bastante comum escutarmos frases como “a homeopatia não funciona” ou “remédios homeopáticos são só água”, o que muita gente não sabe é que a prática é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como válida e, no Brasil, ela foi reconhecida como especialidade médica em 1980 (pelo Conselho Federal de Medicina) e como especialidade farmacêutica em 1993 (através da Resolução nº 232, do Conselho Federal de Farmácia). 

Mas, mesmo com esse reconhecimento, ainda há muita descrença na eficácia do tratamento. Segundo a farmacêutica e professora Ana Paula Belizário, que debruça os seus estudos sobre a prática da homeopatia, os questionamentos ocorrem porque “o contexto das ciências médicas possui uma postura de pouca abertura científica para paradigmas distintos do modelo hegemônico, como os que envolvem a homeopatia”. Ela prossegue ainda explicando que isso se deve a dois fatores principais: “um diretamente relacionado a uma visão científica unilateral dos envolvidos, porém que se disponibilizam ao diálogo e outra face direcionada pelos preconceitos plantados ao longo do tempo, respondendo não apenas a necessidade do domínio científico, mas também, a interesses econômicos”, esclarece.

No entanto, a farmacêutica também reforça que as pesquisas realizadas por ela, tais como o seu mestrado, apontam para um resultado positivo a favor da homeopatia. “Todo o movimento da minha ação profissional sinaliza para a credibilidade desta terapêutica”, afirma.

 

Além da farmacotécnica: a importância do profissional farmacêutico no tratamento homeopático

No Brasil, a maior parte dos medicamentos homeopáticos são produzidos nas farmácias de manipulação, nas quais o farmacêutico exerce papel fundamental e deve estar qualificado com conhecimento específico sobre a terapia alternativa. No entanto, a presença desse profissional na homeopatia pode se dar de diversas maneiras e envolve não apenas a produção do medicamento em si, mas também a pesquisa e a educação em saúde. “O farmacêutico precisa estar atento à farmacotécnica do medicamento propriamente dita, porém, também é importante constituir um ambiente farmacêutico que possibilite os cuidados com o paciente e a educação em saúde”, explica Ana Paula. “Estas ações são necessárias para o entendimento dos mesmos sobre a dinâmica diferenciada da terapêutica homeopática o que colabora para o sucesso do tratamento”, conclui.

Outro aspecto que a professora ressalta sobre a utilização da homeopatia pelo profissional farmacêutico é a assistência direta ao paciente com informações a respeito das características e princípios da prática, ação que traz para o cotidiano a discussão dos sistemas de curso e cuidados com a saúde. Nesse sentido, a profissional explica que é necessário pensar no cuidado com o paciente englobando as atribuições dos diversos profissionais da saúde no tratamento. Um exemplo disso citado por ela é a interação do farmacêutico com os prescritores, fator que considera como “condição muito importante para o desenvolvimento do tratamento. Desde o início de minha atividade profissional no contexto da homeopatia observei esta necessidade”. 

Ao refletir sobre o contexto sergipano da prática da homeopatia, Ana Paula ressalta também que enxerga um bom cenário. “Farmácias que manipulam homeopatia para atendimento de pacientes da capital e do interior. Médicos com excelente formação empenhados na prática qualificada da clínica homeopática. Presença de médicos no SUS e atividades do movimento popular de saúde em favor das Práticas Integrativas e Complementares, nas quais se incluem a homeopatia”, esses são alguns aspectos destacados pela professora ao falar do assunto. Ela acrescenta a isso ainda a presença dos estudos na área dentro do universo acadêmico. “Temos profissionais farmacêuticos que de alguma forma tiveram em sua formação o contato pelo menos com a farmacotécnica homeopática e talvez com a visão científica, social e humana da homeopatia”, exemplifica. Apesar disso, ela acredita que ainda há avanços a serem feitos. “É um bom cenário, porém sempre pode melhorar ou ser ampliado!”, ressalta. 

 

O homem em equilíbrio usando seu corpo e sua mente: a visão de saúde holística da homeopatia

O termo “holístico” foi criado a partir da expressão “holos”, que em grego significa “todo” ou “inteiro”. No contexto da saúde, diz respeito a uma visão que enxerga o ser humano através de todos os aspectos que influenciam no seu bem estar. Assim, a homeopatia é considerada uma ciência holística, na medida em que insere o paciente em um contexto de “melhoria integral da saúde, melhor conhecimento de si próprio, menos doença física, melhor atitude para o mundo”, comenta Ana Paula. 

A partir disso, a homeopatia se baseia no emprego de três princípios básicos: a cura pela similitude, as doses infinitesimais e a experimentação prévia em indivíduos sadios. Esses três princípios correlacionados entre si, segundo os profissionais que trabalham com a homeopatia, garantem a eficácia do tratamento do paciente. Mas, eles também despertam questões e debates no meio científico, pois são alvo de críticas. 

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Nesse sentido, Ana Paula reforça a necessidade de ampliar o debate sobre a homeopatia no sentido de qualificar os profissionais e de fornecer informações sobre o tema e destaca a função dos órgãos de classe, como o CRF/SE, na ampliação da discussão. “Ações no órgão de classe e na academia são indispensáveis para a divulgação desta prática, [...] colaborando para divulgação, ampliação dos serviços e implantação de novas ações que melhorem a realidade caótica da visão de saúde/doença contemporânea”, comenta. “Como deixou escrito Hahnemann o pai da homeopatia, o homem em equilíbrio usando seu corpo e sua mente para os altos fins de sua existência”, finaliza.