ENTREVISTA: FARMACÊUTICOS DA ALEGRIA


 

Em outubro deste ano, os “Farmacêuticos da Alegria” completam 9 anos de atuação. O projeto trata-se de uma proposta de farmacêuticos e estudantes de Farmácia e é responsável por diversas ações que buscam orientar a comunidade sobre temas relativos à saúde e ao uso racional de medicamentos.

 

Para comemorar esse aniversário e dar visibilidade às atividades do projeto, entrevistamos os integrantes do grupo, que falaram um pouco sobre a sua trajetória e suas ações em prol da saúde da comunidade.

 

CRF/SE - Como e quando surgiram os Farmacêuticos da Alegria? Houve alguma inspiração para o seu surgimento? É uma ideia que existe apenas em Sergipe ou também está presente em outros locais?

FARMACÊUTICOS DA ALEGRIA - Os Farmacêuticos da Alegria surgiram no ano de 2009, como uma proposta de acadêmicos do Curso de Farmácia da Universidade Federal de Sergipe na disciplina Estágio Supervisionado. Tal disciplina tinha por foco colocar os estudantes de Farmácia em cenários de prática onde, na época (em 2009) comumente o profissional farmacêutico não estaria presente, como nas pediatrias hospitalares.

Em busca na literatura, encontramos estudos que alertavam sobre a condição da criança hospitalizada: afastada do seu ambiente familiar, de seus amigos, da escola e de seus objetos pessoais, perdendo assim grande parte de suas referências, além de existir a possibilidade de ter seu corpo submetido a processos dolorosos e desagradáveis (Bar-Mor, 1997; Carvalho e Begnis, 2006). Ademais, encontramos estudos que demonstram que é preciso considerar que ter acesso à assistência médica e a medicamentos não implica necessariamente em melhores condições de saúde ou qualidade de vida, em muitos casos a informação prestada ao paciente chega a ser tão ou mais relevante que o medicamento recebido (Llimós, Faus, 2003; Pepe, Castro, 2000).

Diante disto, os Farmacêuticos da Alegria foram criados como uma estratégia de atuação direta dos Acadêmicos de Farmácia e Farmacêuticos com crianças hospitalizadas, por meio de atividades lúdicas e da arte do palhaço para humanizar o cuidado e educar o público-alvo (inicialmente crianças) em temas de saúde, em especial sobre o Uso Racional de Medicamentos (URM). Atualmente o projeto é composto por vários acadêmicos e profissionais de diversas áreas (saúde, exatas, humanas, etc) e atende diversos públicos, não somente crianças como: adultos e idosos, abrangendo todas as faixas etárias.

Em 2009, em pesquisa sobre o tema, foi possível encontrar diversos grupos de profissionais das mais diversas áreas trabalhando com o lúdico em ambientes hospitalares, como “Doutores da Alegria” e “Anjos da Enfermagem”, mas nenhum outro possuía foco na educação em saúde, com ênfase em URM, mesclado com atividades lúdicas. Assim, estes projetos nos inspiraram principalmente nas nossas abordagens iniciais. Na verdade, aliamos as abordagens destes grupos com temas voltados ao URM e educação em saúde. Atualmente, existem outros projetos em outros locais do país, mas a marca e a metodologia dos “Farmacêuticos da Alegria” são únicas.

Apesar de ter surgido na UFS, trata-se hoje de um grupo independente e que conta com a presença de estudantes e profissionais de outras instituições de ensino e/ou estabelecimentos de saúde.

 

CRF/ SE - Qual é o principal objetivo das ações de vocês?

FA - O grupo Farmacêuticos da Alegria tem como missão educar pessoas, família e comunidade sobre temas relativos à saúde e ao uso racional de medicamentos por meio de atividades lúdicas e humanização do cuidado.

 

Durante os seus nove anos de existência, o projeto realiza ações voltadas para os mais diversos públicos.

Durante os seus nove anos de existência, o projeto realiza ações voltadas para os mais diversos públicos. (Imagem: Arquivo pessoal do grupo) 

 

CRF/SE - Poderia descrever um pouco a atuação dos Farmacêuticos da Alegria? Por exemplo, quais estabelecimentos vocês visitam, se há alguma frequência, quantas pessoas fazem parte etc.

FA - As ações são programadas em reuniões periódicas de todos os membros. Nestas reuniões são definidos os locais de atuação. A seleção do local é por indicação de qualquer membro ativo dos Farmacêuticos da Alegria ou por convite direto da instituição. Uma vez definido o local, é feita uma visita na instituição que nos receberá, por um dos membros, para determinar o perfil da instituição (espaço físico, público-alvo, participação da equipe e necessidades e expectativas do local). A visita na instituição definirá os tipos de abordagens a serem seguidas. Alguns locais são permanentes, como o Hospital Universitário (HU), considerado nosso berço (todas as ações começam e terminam no HU).

Em posse do perfil da instituição e do número de Farmacêuticos disponíveis para a ação, são definidas as estratégias para atingir nosso público alvo. Já possuímos atividades semi-elaboradas, visando cada grupo específico.

 

CRIANÇA:

                - Teatro de Fantoches

                - Gibi

                - Caderno de Atividades

                - Oficina de Fantoches

                - Jogo de Tabuleiro

                - Passa-ou-repassa sobre URM

                - Brincadeiras da infância

                - Gincanas

                - Campanhas diversas de arrecadação (brinquedo, fraldas, leite, material escolar)

                 

ADULTO:

                - Qual é a música?

                - Os sombras

                - Passa-ou-repassa sobre URM

 

PAIS/CUIDADORES:

                - Palestra sobre uso racional de medicamentos pediátricos

 

Hemocentro:

                - Campanhas de doação de sangue e medula

                - Campanhas de doação de cabelo

 

Os locais são bem variados, desde hospitais (como o Hospital Universitário e o Hospital de Urgências de Sergipe), escolas, creches, instituições de longa permanência, unidades de saúde, centros de hemoterapia, centro de atenção psicossocial, etc. A frequência das ações é bem variável, inclusive de acordo com os convites que recebemos. Mas temos algumas ações em comemoração à algumas festividades como por exemplo a Páscoa, Dia das crianças e Natal. Hoje, temos um grupo de 11 pessoas responsáveis pela organização do grupo e uma rede de mais de 60 colaboradores.

 

CRF/SE - Vocês enfrentam alguma dificuldade para realizar as ações? Se sim, quais?

FA - Sim. Enfrentamos algumas dificuldades, como: (a) Por ser um projeto voluntário, não temos fonte de renda fixa. Todos os materiais que temos e utilizamos são provenientes de doações ou venda de produtos personalizados, como camisetas e chaveiros. (b) Não podemos realizar ações com a frequência que desejamos, em virtude das atividades laborais de cada membro dos Farmacêuticos da Alegria. A maioria dos membros e colaboradores é composta por profissionais ou estudantes, o que limita as nossas ações e nossas disponibilidades. Mais de 95% das nossas ações nestes últimos anos foram realizadas em sábados, domingos e feriados.

 

CRF/SE – Como a comunidade pode colaborar com o projeto?

FA - Os farmacêuticos da alegria desenvolvem diversas ações que podem ter a participação de farmacêuticos e da população de forma geral. Assim, eles podem participar de forma direta (colocando a mão na massa, participando das ações em hospitais, creches, instituições de longa permanência, escolas, centros de atenção psicossocial, unidades básicas de saúde, etc), como a colaboração indireta (promovendo nossas ações em redes sociais e participando das nossas campanhas de arrecadações). Sempre gostamos de lembrar que para participar dos Farmacêuticos da Alegria ter disponibilidade e disposição para se doar a levar açúcar e afeto para as pessoas.

 

Farmacêuticos da alegria

Apesar de ter surgido na UFS, hoje o projeto trabalha de forma independente e é aberto para a participação de profissionais e estudantes de outras instituições de ensino e/ou estabelecimentos. (Foto: Arquivo pessoal do grupo) 

 

 

CRF/SE - O farmacêutico ou estudante de Farmácia que tiver interesse pode fazer parte do projeto? Como ele deve proceder?

FA - Para fazer parte do grupo tem que ter alguns pré-requisitos: ter vontade, disposição, disponibilidade e acreditar que açúcar e afeto podem curar.

Os interessados devem entrar em contato pelas redes sociais ou telefone para contato (whatsApp) para se inteirar de nossa programação (ações e capacitações). Temos um cronograma prévio de ações a serem realizadas em diversos locais ao longo do ano. E obrigatoriamente antes das ações, realizamos capacitações.

Estas capacitações têm como objetivo conhecer o grupo (história, missão, visão e valores), planejar as atividades que serão desenvolvidas na ação e dar orientações aos membros sobre as mesmas (ex. vestimenta, comportamento com o público-alvo, etc). Além disso, as capacitações têm a finalidade de discutir e formar os membros sobre temas importantes para a realização das ações como humanização do cuidado, técnicas de improviso e arte do palhaço.

Uma vez que o farmacêutico ou estudante de Farmácia passa pela capacitação ele fica apto a participar das nossas ações.

 

CRF/SE - Por fim, para você, como é poder fazer parte de um projeto importante como esse e que tem dado certo por tantos anos?

FA - É muito gratificante ter a possiblidade de ajudar positivamente nas vidas das pessoas, famílias e comunidade. Ajudar as pessoas e ao mesmo tempo exercer nossa profissão é umas das coisas mais apaixonantes. Por vezes nos questionamos: “Os Farmacêuticos da Alegria fazem bem pra quem? Pro paciente? Ou pra gente?”.

 

Para maiores informações sobre o projeto, você pode acessar as páginas nas redes sociais (facebook.com/FarmaceuticosDaAlegria e @farmaceuticosdaalegria no Instagram) ou entrar em contato através dos telefones (79) 99948-2287 (Genival Junior) ou (79) 99640-3235 (Lincoln Marques).