Em 2017, o Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE) atendeu 1.800 casos de intoxicação medicamentosa. Na maioria dos casos, esse tipo de intoxicação é causada pela automedicação. Para explicar as causas e as soluções para a intoxicação por medicamentos, o Conselho Regional de Farmácia de Sergipe (CRF/SE) entrevistou a farmacêutica Quênnia Garcia Moreno Resende, mestre em Ciências Farmacêuticas. Confira a seguir as dicas dela:
CRF/SE - Quais as causas mais comuns de intoxicação por medicamentos?
QGMR - O medicamento é o principal agente tóxico que causa intoxicação em seres humanos no Brasil, ocupando o primeiro lugar nas estatísticas do SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas) desde 1994.
Os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos e anti-inflamatórios são as classes de medicamentos que mais causam intoxicações em nosso país (44% foram classificadas como tentativas de suicídio e 40% como acidentes, sendo que as crianças menores de cinco anos- 33% e adultos de 20 a 29 anos. 19% constituíram as faixas etárias mais acometidas pelas intoxicações por medicamentos).
CRF/SE - Como evitar que a intoxicação aconteça?
QGMR - Seguindo algumas orientações, tais como:
* Utilizar medicamentos com prescrição médica;
* Utilizar medicamentos sob a orientação e/ou prescrição (os isentos de prescrição médica) do farmacêutico;
* Não indicar o seu medicamento prescrito para terceiros;
* Guardá-lo em local seguro, fora do alcance de crianças e idosos;
* Solicitar ao prescritor a letra legível na receita a fim de evitar a dispensação do medicamento errado na farmácia;
* Atenção ao utilizar medicamentos com embalagens semelhantes;
* Relatar ao médico possíveis alergias ao utilizar determinados medicamentos;
* Nunca fazer uso simultâneo de álcool e medicamento;
* E, principalmente, evitar a automedicação.
CRF/SE - Como a automedicação pode influenciar no aumento de casos de intoxicação?
QGMR - A propagação e o crescimento da automedicação no Brasil e no mundo são resultado de fatores socioeconômicos, políticos e culturais, se tornando um problema de saúde pública. A maior disponibilidade de produtos no mercado gera uma maior familiaridade do usuário leigo com os medicamentos e a falta de orientação de um profissional farmacêutico leva a índices alarmantes de intoxicação por medicamentos.
CRF/SE - Qual o papel do farmacêutico na prevenção da intoxicação por medicamentos?
QGMR - O farmacêutico deve orientar o usuário do medicamento com relação ao uso, horários de administração e possíveis reações adversas; melhor maneira de guardar o medicamento na residência a fim de evitar a perda de eficiência do mesmo e fora do alcance de crianças e idosos; não indicar o medicamento prescrito para amigos e parentes a fim de evitar intoxicação e possíveis danos a saúde.
CRF/SE - Aquele medicamento que sobrou em casa, ele pode ser um risco para uma futura automedicação? Como fazer o descarte correto dessas sobras de medicamentos?
QGMR - Ele oferece risco sim, pois pode ocorrer um equívoco entre medicamentos: o risco de intoxicação através da ingestão acidental, principalmente por crianças e idosos, a perda de eficiência do medicamento pelo mau armazenamento ou até mesmo por vencimento.
O descarte correto deve ser feito em locais autorizados pelos órgãos sanitários de sua região ou cidade, através de recipientes localizados em estabelecimentos de saúde, como as farmácias e/ou drogarias, evitando que esse medicamento seja exposto ao meio ambiente de forma insegura. Importante ressaltar que não se deve descartar em lixos residenciais ou na pia de banheiros e cozinhas, afinal, o medicamento é um composto químico e o mesmo pode contaminar rios e afluentes, gerando um risco à saúde da população.