O preenchimento dos prontuários nos atendimentos de saúde é um importante passo para a garantia da melhor forma de tratamento dos pacientes. Para assegurar o cumprimento dessa etapa do atendimento, e buscar melhorias em sua execução, foi realizada uma reunião na sede do Ministério Público Federal (MPF) para discutir as demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) em relação aos prontuários. A reunião, mediada pelo Procurador da República Ramiro Rockenbach, contou com a presença de representantes do Conselho Regional de Farmácia de Sergipe (CRF/SE) e de outros conselhos profissionais.
O CRF/SE - junto a profissionais das áreas da medicina, enfermagem, psicologia, nutrição, odontologia e assistência social - explanou suas realidades de trabalho quanto ao funcionamento dos prontuários, indicando os problemas que enfrentam. Alguns dos obstáculos são a sobrecarga dos atendentes, que resulta em deslizes no preenchimento; o monopólio de funções nas mãos de uma só área profissional; a possível quebra de sigilo; a falta de profissionais e a má comunicação entre as áreas.
Como contou Ramiro Rockenbach, o debate surgiu em uma das reuniões periódicas que a Comissão de Gestão da Saúde do MPF costuma realizar, com a participação e representação de todos os profissionais da saúde. Dessa forma, uma nova reunião, extraordinária, foi marcada para sancionar esse problema.
Neste encontro, foi estabelecido um prazo de 60 dias para os conselhos encaminharem suas demandas quanto ao tema para o MPF, junto a sugestões e reivindicações. A iniciativa busca atingir “esse objetivo, que é comum e que é essencial no sentido de que todo e qualquer paciente do SUS, seja homem ou mulher, seja criança, jovem ou idoso, tenha adequadamente o seu histórico, a sua passagem pelas unidades de saúde, devidamente registrada, isso em relação a todos os setores profissionais da saúde”, afirma o Procurador.
Prontuários na farmácia clínica
No que diz respeito ao preenchimento de prontuários por profissionais farmacêuticos, essa é uma prática limitada à farmácia clínica, e ainda é recente no estado. A falta de conhecimento e prática nesse âmbito resulta em deslizes na comunicação entre profissionais, além da falta de delegação de funções, constando no acúmulo de funções em uma só área de atuação, geralmente a da medicina ou de enfermagem.
Simony Soares, farmacêutica clínica no Hospital Universitário (HU), acredita que, para resolver os problemas tratados na reunião, faz-se necessário o estabelecimento de uma metodologia clínica de registro dos prontuários. “Para o farmacêutico, talvez seja essa a dificuldade, de não ter, em vários ambientes, o serviço clínico bem estabelecido. E a metodologia de registro também não está bem estabelecida”, reflete a farmacêutica.
A superficialidade e a falta de informação são outros percalços que, para Simony, ainda prejudicam o bom funcionamento do sistema de prontuários. “Além do registro, a gente precisa ter leitura para que a comunicação se torne efetiva. Se não tiver, a gente não tem essa efetividade e não tem o cumprimento dessas atribuições que a gente precisa para ter um cuidado mais seguro do paciente”, afirma.
No HU, entretanto, sempre há farmacêuticos, atendentes ou residentes, à disposição em todas as enfermarias. Para driblar os obstáculos, os farmacêuticos do local tanto buscam padronizar as informações a serem registradas, como manter a frequência desses registros. “Se você não documenta, aquela intervenção não vai valer, então ela não existiu. O que a gente tem feito? A gente tem cobrado mais essa questão do registro mais frequente e tem estabelecido essa padronização”, conta Simony.
Já no Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), a dinâmica do uso de prontuários está começando a funcionar através de um projeto piloto. No entanto, apenas duas farmacêuticas dão conta de todo o serviço da emergência e do Serviço de Informação sobre Medicamentos. “A gente acompanha o prontuário, registra e conversa com o médico. Antes de registrar, conversa com o enfermeiro, tudo é pactuado”, garante Keila Xavier, farmacêutica do HUSE.