Três em cada quatro brasileiros enfrentam barreiras no acesso a serviços de saúde, mostra estudo

Essas informações fazem parte de um estudo global conduzido pela Haleon, em parceria com a Economist Impact e pesquisadores da University College London


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O Brasil apresenta dados paradoxais quando o tema é inclusão em saúde. Três a cada quatro brasileiros (74%) relatam ter enfrentado ao menos uma barreira ao buscar acesso a serviços de saúde. Contudo, entre aqueles que conseguem acesso, a maioria (75%) afirma que sua saúde é discutida de maneira compreensível, com explicações claras sobre termos médicos. Ainda assim, a discriminação permanece um desafio: metade das pessoas marginalizadas ou com doenças crônicas percebe que a qualidade do atendimento recebido foi influenciada negativamente por fatores demográficos ou históricos de saúde.

Essas informações fazem parte de um estudo global conduzido pela Haleon, em parceria com a Economist Impact e pesquisadores da University College London, que avalia o índice de inclusão em saúde em 40 países. Para isso, mais de 42 mil pessoas foram entrevistadas sobre o acesso a serviços de saúde, buscando identificar lacunas no cuidado.

Na segunda edição da pesquisa, foram analisadas três barreiras principais à inclusão em saúde: literacia em saúde, acessibilidade e discriminação. A literacia refere-se à capacidade de compreender e utilizar serviços disponíveis; a acessibilidade diz respeito ao custo ou disponibilidade desses serviços; e a discriminação envolve percepções sobre a qualidade do atendimento. “Identificamos que muitas pessoas enfrentam barreiras significativas para acessar cuidados melhores, seja por como são tratadas ou por como se sentem ao vivenciar o cuidado à saúde”, explica Vicky Edmonds, diretora de Impactos Sociais da Haleon.

Entre os principais entraves no Brasil, destacam-se a falta de consultas disponíveis (56%) e horários inconvenientes (29%). A distância ou o custo do transporte são obstáculos para 15% dos brasileiros, chegando a afetar 26% das pessoas marginalizadas e com doenças crônicas. “Embora o Brasil tenha um sistema comunitário universal, alguns serviços permanecem fora do alcance financeiro para muitos cidadãos”, comenta Edmonds.

 

Inclusão em saúde no contexto global

O Brasil ocupa a 17ª posição no índice global de inclusão em saúde, uma melhora em relação à 19ª colocação na edição anterior, em 2023. No período, 85% dos países analisados registraram quedas na pontuação geral, incluindo a Alemanha, que passou da 9ª para a 14ª posição.

“Ter subido no ranking representa uma forte performance. Além disso, o Brasil foi o país mais inclusivo em saúde da América Latina”, destaca Edmonds. Outros países da região presentes no ranking incluem Costa Rica, Colômbia, Cuba e Honduras. A média de disponibilidade de serviços de saúde no Brasil (77%) é levemente superior à global (76%) e à de países de renda média alta (74%).

Segundo Edmonds, a pesquisa demonstra que melhorar a inclusão na saúde pode gerar ganhos significativos, incluindo aumento da expectativa de vida saudável e redução de custos. “Notamos que não há correlação direta entre investimento financeiro em saúde e inclusão. Por exemplo, os EUA, com o maior gasto do PIB em saúde, ocupam apenas o 11º lugar, enquanto a Indonésia, com investimento menor, apresenta um sistema mais inclusivo.”

 

Desafios enfrentados por grupos marginalizados

A negação de acesso à saúde é uma realidade global, mas impacta de forma acentuada a população marginalizada e pessoas com condições crônicas no Brasil. Dois em cada cinco (42%) pertencentes a esses grupos relatam ter tido o acesso negado. “Embora existam políticas inclusivas, essa percepção positiva não se reflete na experiência vivida pelas pessoas”, observa Edmonds.

Além disso, esses grupos relatam outros problemas no cuidado: 37% afirmam que suas dores não são levadas a sério, 35% relatam ter exames ou tratamentos negados, e 24% sentem-se tratados de forma injusta ou discriminados.

Edmonds destaca que empoderar comunidades e indivíduos na gestão da própria saúde é essencial para melhorar a inclusão. “Oito dos dez países com melhores índices de inclusão também alcançaram as pontuações mais altas em empoderamento pessoal e comunitário. Promover a prevenção e o autocuidado é fundamental para transformar sistemas de saúde”, conclui.