Cuidados paliativos: o papel fundamental dos farmacêuticos na humanização da assistência

Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Cuidados Paliativos no SUS


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Em maio deste ano, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Cuidados Paliativos no SUS, visando melhorar a qualidade de vida de pessoas com doenças graves, crônicas ou em fase terminal. Estima-se que cerca de 625 mil pessoas no Brasil necessitam desses cuidados. “A nova política institucionaliza um campo de atuação para os farmacêuticos dentro do Sistema Único de Saúde, na medida em que prevê recursos para o custeio desse atendimento e nos inclui no leque de opções que os gestores públicos têm para compor suas equipes, comenta o presidente do Conselho federal de Farmácia (CFF), Walter Jorge João. 

A nova política prevê a formação de 1,3 mil equipes multiprofissionais, que vão disseminar práticas e garantir acesso a medicamentos e insumos necessários para o alívio da dor, controle de sintomas e apoio emocional, promovendo uma assistência mais humanizada. Dentre essas equipes, 485 serão matriciais, focando na gestão de casos, enquanto 836 prestarão atendimento direto. Em ambos os casos, as equipes serão compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais e psicólogos. Mas os gestores terão autonomia para incorporar farmacêuticos, cirurgiões-dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e nutricionistas.

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Luciana da Hora é farmacêutica  clínica paliativista do Hospital Geral

Ernesto Simões Filho, em Salvador (BA)

“É importante frisar que, dentro desse contexto, o farmacêutico desempenha um papel crucial. Sua atuação vai além da simples dispensação de medicamentos, envolvendo a gestão da farmacoterapia e assegurando a eficácia e segurança dos tratamentos”, comenta a farmacêutica clínica paliativista do Hospital Geral Ernesto Simões Filho, em Salvador (BA), Dra. Luciana da Hora. “O farmacêutico é essencial para uma abordagem integral e centrada no paciente, respeitando suas necessidades e melhorando sua qualidade de vida”, reforça.

No Hospital Geral Ernesto Simões Filho, uma equipe dedicada composta por farmacêuticos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, médicos e fisioterapeutas trabalha em conjunto para garantir o bem-estar dos pacientes. Luciana da Hora destaca que a importância do trabalho em equipe é fundamental, pois permite uma visão integral do paciente, considerando todas as suas necessidades.

Como exemplo, cita o caso de uma paciente atendido recentemente no hospital onde atua. Ele apresentava dor intensa, que não diminuía mesmo com o uso do analgésico já prescrito. “Identificamos que outro medicamento na sua prescrição estava prejudicando o efeito do analgésico. Além disso, o paciente estava enfrentando constipação devido ao uso de analgésicos opioides. Intervimos sugerindo ajustes na farmacoterapia, e o resultado foi uma melhora significativa nas suas queixas”, relata.

Luciana enfatiza que o papel do farmacêutico vai muito além do alívio da dor; inclui também a promoção do uso racional de medicamentos e a educação contínua da equipe de saúde sobre a segurança nos tratamentos. Formada pela Universidade Federal da Bahia, seu interesse por cuidados paliativos nasceu da compreensão da importância de um olhar humanizado para os pacientes. “O cuidado vai além do diagnóstico. Todos merecem dignidade e qualidade de vida até o fim”, afirma.

Ela acredita que a área de cuidados paliativos deve crescer e se desenvolver. “É fundamental desmistificar essa abordagem. Cuidados paliativos não são apenas para aqueles que estão morrendo, mas para qualquer pessoa com uma doença grave. O farmacêutico deve ser uma parte integral desse cuidado, promovendo conforto e minimizando o sofrimento do paciente e de sua família”.