Um estudo alarmante publicado na renomada revista científica The Lancet revela um cenário sombrio para a saúde global: a crescente resistência de bactérias aos antibióticos. A pesquisa, que analisou dados de milhões de pessoas em todo o mundo, indica que nos próximos 25 anos, mais de 39 milhões de mortes poderão ser atribuídas a infecções resistentes a medicamentos.
A resistência bacteriana a antibióticos ocorre quando microrganismos desenvolvem mecanismos que os tornam imunes aos tratamentos convencionais. Esse fenômeno, cada vez mais comum, está transformando infecções antes tratáveis em graves ameaças à saúde. Os dados da pesquisa demonstram que a resistência a antibióticos tem se intensificado ao longo das décadas, com um aumento significativo no número de mortes relacionadas a essas infecções.
O estudo analisou uma vasta gama de patógenos e combinações de infecções, abrangendo diferentes grupos populacionais em diversos países. Os resultados indicam que, embora a mortalidade infantil tenha diminuído significativamente nas últimas décadas, graças a melhorias nas condições de saúde, a mortalidade em adultos, especialmente entre idosos, tem aumentado de forma alarmante devido à maior vulnerabilidade a infecções resistentes.
Entre os patógenos mais preocupantes, destaca-se o Staphylococcus aureus, que tem demonstrado uma crescente resistência aos antibióticos. As projeções indicam que, nas próximas décadas, as mortes relacionadas à resistência a esse patógeno poderão aumentar significativamente.
A resistência a antibióticos representa uma grave ameaça à saúde pública global. A falta de novos antibióticos eficazes, o uso inadequado de antibióticos e a disseminação de bactérias resistentes em ambientes hospitalares e comunitários são alguns dos fatores que contribuem para esse problema. É urgente que a comunidade internacional adote medidas para combater a resistência a antibióticos, como o desenvolvimento de novos tratamentos, a prevenção de infecções e o uso racional de antibióticos.
Campanha do CFF
A resistência de microrganismos aos antimicrobianos, que tem como uma das causas o uso indiscriminado de medicamentos, é uma preocupação constante da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta epidemia silenciosa provocou cerca de 4,95 milhões de mortes em todo o mundo, sendo 1,27 milhões diretamente por infecções de bactérias resistentes (2019).
No Brasil, onde cerca de 90% das pessoas se automedicam (Pesquisa ICTQ/Datafolha, 2024), dados reunidos pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em parceria com a IQVIA mostram que o quadro pode ter se agravado em função da pandemia de Covid-19. Por tudo isso, o CFF elegeu este como tema da sua campanha anual pelo Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio.
O levantamento mostra que, na pandemia, o varejo farmacêutico experimentou um aumento sustentado nas vendas de antimicrobianos. O ápice de 228,3 milhões de unidades vendidas foi atingido em 2022 (38,53% de aumento em relação ao ano anterior). Este crescimento significativo reflete uma tendência ascendente, partindo de 171,1 milhões de unidades em 2019 (dados de março a dezembro), para 180,7 milhões em 2020 e 187,3 milhões em 2021.
O diretor secretário-geral do CFF, Gustavo Pires, afirma que o tema deve ser tratado de forma séria e objetiva, a fim de conscientizar todos os agentes envolvidos. "Nossa campanha teve como objetivo levantar o debate, acionar autoridades e população, propor e promover formas de amenizar o aumento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos no País. O assunto preocupa a comunidade científica e existe um anseio por soluções relacionadas a esse avanço", justifica o farmacêutico.