Mais de 39 milhões de pessoas podem morrer devido a infecções resistentes aos antibióticos

Em 2024, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) elegeu este como tema da sua campanha anual pelo Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos


Um estudo alarmante publicado na renomada revista científica The Lancet revela um cenário sombrio para a saúde global: a crescente resistência de bactérias aos antibióticos. A pesquisa, que analisou dados de milhões de pessoas em todo o mundo, indica que nos próximos 25 anos, mais de 39 milhões de mortes poderão ser atribuídas a infecções resistentes a medicamentos.

A resistência bacteriana a antibióticos ocorre quando microrganismos desenvolvem mecanismos que os tornam imunes aos tratamentos convencionais. Esse fenômeno, cada vez mais comum, está transformando infecções antes tratáveis em graves ameaças à saúde. Os dados da pesquisa demonstram que a resistência a antibióticos tem se intensificado ao longo das décadas, com um aumento significativo no número de mortes relacionadas a essas infecções.

O estudo analisou uma vasta gama de patógenos e combinações de infecções, abrangendo diferentes grupos populacionais em diversos países. Os resultados indicam que, embora a mortalidade infantil tenha diminuído significativamente nas últimas décadas, graças a melhorias nas condições de saúde, a mortalidade em adultos, especialmente entre idosos, tem aumentado de forma alarmante devido à maior vulnerabilidade a infecções resistentes.

Entre os patógenos mais preocupantes, destaca-se o Staphylococcus aureus, que tem demonstrado uma crescente resistência aos antibióticos. As projeções indicam que, nas próximas décadas, as mortes relacionadas à resistência a esse patógeno poderão aumentar significativamente.

A resistência a antibióticos representa uma grave ameaça à saúde pública global. A falta de novos antibióticos eficazes, o uso inadequado de antibióticos e a disseminação de bactérias resistentes em ambientes hospitalares e comunitários são alguns dos fatores que contribuem para esse problema. É urgente que a comunidade internacional adote medidas para combater a resistência a antibióticos, como o desenvolvimento de novos tratamentos, a prevenção de infecções e o uso racional de antibióticos.

Campanha do CFF

A resistência de microrganismos aos antimicrobianos, que tem como uma das causas o uso indiscriminado de medicamentos, é uma preocupação constante da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta epidemia silenciosa provocou cerca de 4,95 milhões de mortes em todo o mundo, sendo 1,27 milhões diretamente por infecções de bactérias resistentes (2019).

No Brasil, onde cerca de 90% das pessoas se automedicam (Pesquisa ICTQ/Datafolha, 2024), dados reunidos pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em parceria com a IQVIA mostram que o quadro pode ter se agravado em função da pandemia de Covid-19. Por tudo isso, o CFF elegeu este como tema da sua campanha anual pelo Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio.

O levantamento mostra que, na pandemia, o varejo farmacêutico experimentou um aumento sustentado nas vendas de antimicrobianos. O ápice de 228,3 milhões de unidades vendidas foi atingido em 2022 (38,53% de aumento em relação ao ano anterior). Este crescimento significativo reflete uma tendência ascendente, partindo de 171,1 milhões de unidades em 2019 (dados de março a dezembro), para 180,7 milhões em 2020 e 187,3 milhões em 2021. 

O diretor secretário-geral do CFF, Gustavo Pires, afirma que o tema deve ser tratado de forma séria e objetiva, a fim de conscientizar todos os agentes envolvidos. "Nossa campanha teve como objetivo levantar o debate, acionar autoridades e população, propor e promover formas de amenizar o aumento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos no País. O assunto preocupa a comunidade científica e existe um anseio por soluções relacionadas a esse avanço", justifica o farmacêutico.