"Amamentação é multidisciplinar. Vejo o farmacêutico como um papel essencial dentro dessas equipes", afirmou a farmacêutica Paula Philipson, profissional que se dedica a essa especialidade e também tem atuado na mamanalgesia - uma técnica que consiste em amamentar o bebê durante ou após a aplicação de imunizantes injetáveis. Após 12 anos trabalhando para a indústria, os caminhos da vida e da maternidade levaram Paula para o campo da lactação, há mais de cinco anos.
A farmacêutica lembra da época em que decidiu cursar Farmácia, em 2003, na cidade de São Paulo, e pensava que não teria contato direto com pacientes. Mas, logo na primeira semana de aula, percebeu que as áreas de atuação eram infinitamente maiores do que imaginava. "Achei super interessante a parte de atenção farmacêutica, voltada para equipe multidisciplinar. Ainda assim, nunca pensei em trabalhar com aleitamento. Na amamentação, meu trabalho é puro acolhimento, escuta ativa e conhecimento técnico", descreve.
Pauta Philipson diz que ser farmacêutica já oferece uma boa bagagem sobre anatomia, fisiologia, sistemas endócrinos e autocrinos, química farmacêutica e bioquímica. Além disso, ela acredita que a profissão permite o entendimento perfeito da bioquímica do leite humano de forma viva e customizada para cada bebê e cada momento de vida ou até mesmo do dia. Segundo ela, dentro da amamentação existem desafios que são necessários conhecimento do mecanismo de ação de substancias, como elas atuam na circulação, o que dá a segurança necessária para saber o que a lactante pode ou não ingerir e se pode ou não pode se tratar.
A farmacêutica Paula Philipso
Lembrando que os farmacêuticos não podem prescrever. Paula reforça a importância da atuação junto a equipes multidisciplinares com prescritores. "Diversas vezes já sugeri a esses colegas o que poderia ser interessante no cenário de uma díade (mãe-bebê) e, muitas vezes, minha sugestão foi ouvida e validada", relatou a especialista.
Quando a lactante volta ao trabalho e quer continuar o aleitamento é preciso orientá-la quanto à ordenha, armazenamento, descongelamento e oferta deste leite, o que também envolve conhecimentos específicos de microbiologia e bioquímica. Essa é outra função que pode ser assumida pelo farmacêutico dentro da equipe multidisciplinar. "Precisamos assegurar que o leite ordenhado preserve as características físico-químicas até o momento de ser for ofertado ao bebê".
Mercado de trabalho
Atualmente, a maior parte de consultoras de amamentação são enfermeiras. Mas Paula diz que a amamentação não é apenas uma ciência biológica, mas, também, é uma ciência humana! "Sendo assim, essa assistência em maternidades e hospitais não deve ser restrita a profissionais de Enfermagem. Farmacêuticas podem perfeitamente orientar gestantes e puérperas no manejo da amamentação", pontua.
De acordo com a especialista, é preciso conscientizar mais farmacêuticos de que amamentação também é um de seus papéis. "Aprendi que amamentação não é ensinada em nenhuma faculdade, nem mesmo em medicina. Portanto, precisamos cada vez mais de profissionais de diversas áreas que consigam se capacitar para trabalhar nessa assistência", concluiu.