Antimicrobiano Gram-negativo seletivo que preserva o microbioma intestinal

O fármaco, chamado lolamicina, está sendo estudado por pesquisadores da University of Illinois at Urbana-Champaign


As infecções causadas por bactérias Gram-negativas patogênicas são cada vez mais prevalentes e são normalmente tratadas com antimicrobianos de amplo espectro, resultando na alteração do microbioma intestinal e na susceptibilidade a infecções secundárias. Há uma necessidade crítica de antimicrobianos seletivos tanto para bactérias Gram-negativas em relação a bactérias Gram-positivas, quanto para bactérias patogênicas em relação a bactérias comensais.

Como exemplo, pesquisadores da University of Illinois at Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, estão desenvolvendo uma substância para reduzir e eliminar infecções bacterianas resistentes a medicamentos em modelos de camundongos (estudo pré-clínico) com pneumonia aguda e sepse, ao mesmo tempo que preserva as bactérias comensais no intestino dos camundongos. O fármaco, chamado lolamicina, inibe o sistema Lol, essencial para o transporte de lipoproteínas em bactérias Gram-negativas. Este fármaco também evitou infecções secundárias por Clostridioides difficile, uma infecção bacteriana comum e grave associada ao ambiente hospitalar, e foi eficaz contra mais de 130 cepas bacterianas multirresistentes em cultura de células. Esse estudo pré-clínico foi publicado na revista Nature em 29 de maio deste ano.

Os estudos em animais (pré-clínicos) ou cultura de células constituem a primeira fase para identificar novos compostos e candidatos promissores para uma exploração mais aprofundada em estudos subsequentes (estudos clínicos, incluindo seres humanos).

“As pessoas estão começando a perceber que os antimicrobianos que combatem infecções e, em alguns casos, salvam vidas – também estão tendo reações adversas, como a alteração da microbiota intestinal. É realmente promissor o desenvolvimento de uma próxima geração de antimicrobianos que poderiam ser desenvolvidos para combater as bactérias patogênicas e não as benéficas”, afirma a farmacêutica Dra. Carolina Xaubet, do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (Cebrim/CTEC/CFF).

Assim, o microbioma intestinal desempenha um papel crítico na regulação do sistema imunológico. A ruptura deste microbioma pode contribuir para o desenvolvimento de doenças autoimunes. Ao preservar o microbioma intestinal, a lolamicina poderá, se confirmada em estudos clínicos subsequentes, reduzir potencialmente o risco de doenças autoimunes ligadas à disbiose induzida por antimicrobianos.

Referência

Muñoz KA, Ulrich RJ, Vasan AK, Sinclair M, Wen P-C, Holmes JR et al. A Gram-negative-selective antibiotic that spares the gut microbiome. 2024. Nature. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41586-024-07502-0