Estudos propõem coquetel de imunoterapia contra melanoma avançado


Uma série de estudos apresentados no encontro anual da Asco (Sociedade Americana de Oncologia Clínica), em Chicago (EUA), reforça a lista de ganhos recentes no tratamento dos casos avançados de melanoma (tipo mais perigoso de câncer de pele).


"Há três anos, tínhamos poucas drogas à nossa disposição e a média de sobrevida era de três meses. Hoje já podemos falar em 17, 18 meses", disse Lynn Schuchter, oncologista especializada em melanoma que não esteve envolvida nas pesquisas e participou de uma entrevista coletiva na conferência.


Apesar de os estudos estarem em fases iniciais, os resultados confirmam a eficácia da imunoterapia (tratamento que estimula o sistema imune a atacar o tumor) contra o melanoma, segundo Schuchter.


Uma estratégia explorada pelos pesquisadores é a combinação do imunoterápico ipilimumabe com outras drogas para potencializar os benefícios. Esse medicamento, aprovado no Brasil no ano passado, foi o primeiro a aumentar a sobrevida de pacientes com melanoma avançado, e seu alvo é uma proteína que mantém os linfócitos T inativos, o que, por sua vez, provoca uma reação do sistema imune contra o câncer.


"Hoje o objetivo é aumentar a imunidade para melhorar o tratamento. Estamos partindo para um coquetel contra o melanoma avançado, como ocorre no tratamento contra a Aids", diz Veridiana Pires de Camargo, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês.


Um dos estudos apresentados na conferência mostrou que o uso do ipilimumabe com outra droga (nivolumabe, ainda não aprovada no país) é seguro e levou a uma regressão rápida do tumor. O trabalho, de autoria de pesquisadores do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center e da Universidade Yale, foi publicado no domingo no periódico medico "New England Journal of Medicine".


O tratamento combinado foi testado em 53 pacientes. Entre os que receberam as doses máximas das drogas, 53% responderam ao tratamento, todos com redução de 80% ou mais do tumor.


Efeitos adversos graves foram observados em 49% dos pacientes, incluindo problemas hepáticos, renais e gastrointestinais. Mas, segundo os autores, efeitos similares ocorrem quando as drogas são usadas separadamente.


Outro estudo apresentado na conferência mostrou que a combinação de um remédio usado para aumentar a produção de glóbulos brancos após tratamento com quimioterapia ou transplante de medula ao ipilimumabe não só aumentou a sobrevida dos pacientes como diminuiu os efeitos colaterais do imunoterápico.A pesquisa envolveu 245 pacientes com melanoma metastático acompanhados por 13 meses.


Os pesquisadores, do Instituto de Câncer Dana-Farber, em Boston, observaram que quem recebeu a combinação de remédios tinha um risco 35% menor de morte do que quem tomou apenas o ipilimumabe. As taxas de redução do tumor foram similares nos dois grupos, mas a média de sobrevida foi maior entre os que receberam os dois medicamentos (17,5 meses contra 12,7 meses, em média).


Fonte: Folha de São Paulo