A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) calcula que 64,9 milhões de unidades de omeprazol foram consumidas no país, apenas em 2022.
Disponível no mercado há mais de 30 anos, o omeprazol promete um alívio rápido e eficaz daquela queimação na barriga e no peito causada pelo excesso de acidez. Ao lado de pantoprazol, lansoprazol, dexlansoprazol, esomeprazol e rabeprazol, ele faz parte da classe farmacêutica dos inibidores da bomba de prótons (conhecidos também pela sigla IBPs).
Os IBPs são especialmente indicados em pacientes com hipergastrinemia, síndrome de Zollinger-Ellison, úlceras pépticas duodenais refratárias a antagonistas H2 da histamina e no tratamento prolongado de Esôfago de Barrett.
Em 2019, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, por encomenda do Conselho Federal de Farmácia (CFF), estimou que 77% dos brasileiros que utilizaram medicamentos nos seis meses anteriores à entrevista tinham como hábito fazê-lo por conta própria, sem prescrição. O consumo dos IBPs por períodos prolongados — como muitas pessoas acabam fazendo no dia a dia sem orientação de um profissional da saúde — está relacionado a desequilíbrios no sistema digestivo e dificuldades na absorção de vitaminas e minerais.
Os riscos do uso prolongado
Alguns estudos indicam que o desequilíbrio provocado pelo uso excessivo desses medicamentos pode potencialmente estar relacionado a doenças mais graves, como osteoporose, câncer e demência. Contudo, é importante destacar que o entendimento sobre esses impactos na saúde ainda não é unânime na comunidade científica, requerendo uma investigação minuciosa e mais aprofundada.
A associação entre o uso prolongado de IBPs e os riscos de variados efeitos adversos permanece controversa. Uma revisão sistemática com meta-análise quantificou as associações apresentadas na literatura. Em julho de 2016, foram pesquisados estudos nas bases de dados Medline, Embase e Cochrane Library.
Foram incluídos os estudos observacionais que estimaram riscos de eventos adversos associados ao uso de IBPs por longo prazo. Foram incluídos 43 estudos, dos quais 28 integraram a meta-análise. As chances de ocorrer pneumonia adquirida na comunidade e fratura de quadril foram, respectivamente, 67% e 42% mais elevadas em pacientes em uso de IBPs por longo prazo versus não usuários de IBPs. Não houve diferença estatística na chance de câncer colorretal.
Embora os IBPs ofereçam benefícios de curto prazo à saúde, seu uso prolongado está associado a desfechos adversos potenciais para a saúde dos usuários. Os autores recomendam enfaticamente que a prescrição de IBP seja feita com parcimônia para melhorar a efetividade e a segurança da terapia.
De um modo geral, os IBPs oferecem reais benefícios aos pacientes, com bom perfil de segurança, no tratamento e prevenção de diversos transtornos gastrointestinais. Mas há evidências científicas, provenientes de ensaios clínicos e estudos observacionais, que sugerem riscos de relevantes problemas associados ao uso desses medicamentos. Portanto, seria sensato recomendar que o uso de IBPs seja parcimonioso, sob prescrição e supervisão de profissional habilitado.
O maior benefício social do acesso aos Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) é garantir às pessoas o direito ao autocuidado, para o alívio de sinais e sintomas de condições clínicas de baixa gravidade, sobretudo onde o acesso aos serviços de saúde é limitado e demasiado oneroso. Nesse contexto, torna-se evidente a responsabilidade social do farmacêutico, como provedor de serviços que favoreçam o uso seguro e racional dos medicamentos, isentos de prescrição ou não.